sexta-feira, 5 de março de 2010

Emprego formal no Brasil: quantidade e qualidade

José Álvaro de Lima Cardoso - Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

A recuperação do emprego de carteira assinada vem desempenhando um papel chave no atual processo de expansão do mercado interno. Em janeiro foram criados 181.419 postos de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), recorde histórico de geração de empregos para o mês. Do saldo de janeiro, a indústria de transformação respondeu por mais de um terço, com 68,9 mil postos de trabalho. Essa recuperação vigorosa do emprego industrial, exatamente o setor mais afetado pela crise, sinaliza o aumento da produção industrial nos próximos meses, visando recompor os seus estoques, para atender a crescente demanda do comércio.

Os dados do emprego formal de janeiro estão em linha com a recuperação do mercado de trabalho, que já vinha dos meses anteriores, e projetam um desempenho recorde do crescimento do emprego formal para 2010. Obviamente, os empregos gerados são ainda de baixa qualidade. Dos 995 mil novos trabalhadores formais contratados em 2009, cerca de 80% pagam até dois salários mínimos. Mas, nos últimos anos, de forma gradativa, têm melhorado os indicadores do mercado de trabalho. Entre 2003 e 2009 o número de trabalhadores formais elevou-se de 49% para 54,2% da População Economicamente Ativa (PEA), indicador que não recuou nem em 2009, ano do impacto da crise mundial no Brasil.

No comportamento recente do mercado de trabalho, no Brasil e em Santa Catarina, observam-se duas tendências que se destacam:

1) recontratação de demitidos. A indústria de transformação, por exemplo, vem recontratando trabalhadores que foram demitidos na crise, dentre outras coisas, em função do vigor da construção civil (54,3 mil novos postos em janeiro) que demanda aço, produtos químicos, plásticos, cimento, azulejo, segmentos grandemente intensivos em mão de obra;

2) crescem as queixas patronais, ou de seus representantes, de falta de força de trabalho qualificada, manifestação bastante comum antes da irrupção da crise. Alguns analistas já prevêem que, caso o país ingresse de fato em um período de crescimento sustentado, a força de trabalho se torne o principal gargalo nesse processo. A falta de mão-de-obra registre-se, especialmente a qualificada, é um fenômeno que já ocorre localizadamente, especialmente para algumas funções da construção civil, como engenheiro e mestre de obras.

Para a maioria da sociedade, que vive de salário, o que a constatação acima importa? Se o mercado de trabalho continuar apresentando o dinamismo dos últimos anos, num contexto de crescimento sustentado, é de se prever que seja acelerada a melhoria no padrão de remuneração dos trabalhadores brasileiros e seja reduzida a rotatividade na maioria dos segmentos econômicos. Estes dois fatores, somada à melhoria das condições gerais de trabalho, incluindo a questão da saúde do trabalhador, tendem a elevar a qualidade do emprego no Brasil.

Fonte Dieese

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